Comissão organizadora do festival da restauração da comarca de Grândola, em 1919.
Da esquerda para a direita, sentados:
Filipe J. Serra, secretário da Câmara; António Abílio Camacho, comerciante; Joaquim Coutinho de Oliveira Mota, farmacêutico e tesoureiro municipal; Eduardo Ramalho, sub-chefe fiscal.
Da esquerda para a direita, de pé:
José Rodrigues Pablo, farmacêutico; António Alves Fernandes, tesoureiro da Fazenda Pública; José B. Júnior, proprietário; João Rodrigues Pablo Júnior, comerciante.
Entre 1870 e o golpe militar que em 1926 pôs termo à Primeira República, Grândola foi dominada pelo pensamento liberal, republicano e municipalista veiculado pelo Dr. José Jacinto Nunes, que no referido período ocupou a Presidência da Câmara quase ininterruptamente.
No âmbito da defesa da descentralização administrativa e judicial, Jacinto Nunes defendeu o restauro da comarca de Grândola, para o que era necessário instalações adequadas. Não as existindo e sendo este o principal argumento usado pelo poder central para se opor à pretensão, a vereação de 1919 deliberou ceder os Paços do Concelho (na Praça D. Jorge) para a instalação do Tribunal de Comarca e serviços anexos.
António Abílio Camacho (1888-1960) revelou interesse pelos domínios da política e da cultura. Neste âmbito, ocupou o cargo de vereador e foi o derradeiro presidente da Comissão Executiva Municipal da Primeira República (antes do golpe militar de 28 de Maio de 1926). Assumidamente republicano, consta ter pertencido à Maçonaria. Paralelamente, desenvolveu a actividade de Solicitador e foi correspondente do periódico republicano Pedro Nunes, assinando os seus artigos sob o pseudónimo de Cacho.
António Alves Fernandes, José Rodrigues Pablo e João Rodrigues Pablo Júnior pertenceram ao triângulo maçónico que existiu em Grândola. Criado a 28 de Julho de 1910, o Triângulo n.º 13, composto pelos irmãos supra e infra indicados, deu origem à Loja Irradiação II, do rito francês, instalada em 15 de Dezembro de 1911, pelo decreto n.º 145, de 19 de Julho do mesmo ano, e de que também fizeram parte o professor Joaquim José Frota, Jacinto Maria Rodrigues Pablo e Francisco Nunes da Conceição. A Loja Irradiação II não possuiu carta patente, tendo sido suspensa por falta de pagamento e, posteriormente, dissolvida a seu pedido, pelo decreto n.º 3 de 15 de Janeiro de 1915.
Os cidadãos que em Grândola estiveram ligados à instituição maçónica integravam a fileira republicana grandolense que gravitava em torno da figura do Dr. José Jacinto Nunes. Contudo, não são conhecidos dados relativos ao relacionamento do Dr. Jacinto Nunes com a Maçonaria.
Irmãos do Triângulo n.º 13 – Data de iniciação de todos os elementos: 28.06.1910:
- António Alves Fernandes – Recebedor da Tesouraria da Fazenda Pública e proprietário. Nasceu em 1875 em Grândola. Era filho de António Alves Fernandes, lojista, natural de Moncorvo e de Maria Adelaide Chainho, natural de Grândola. Casou em 1907 com Maria das Dores Rodrigues, oriunda de outra família de proprietários locais. Esteve igualmente ligado a negócios de cortiça. Iniciou aos 34 anos e adoptou o nome simbólico “Júlio Dinis”;
- José Rodrigues Pablo (1878-1951) - farmacêutico, activo e empenhado vereador, usou o nome simbólico de Viriato;
- João Rodrigues Pablo Júnior (1884 – 1956) - comerciante, iniciou aos 26 anos e adoptou o nome simbólico “Luís de Camões”;
(Estes dois maçons oriundos do clã Pablo também integraram a Loja Irradiação II. A Farmácia Pablo, fundada em 1901 por José Rodrigues Pablo, assumiu particular relevância no contexto do republicanismo local, dado que foi utilizada como espaço de reunião, convívio e reflexão dos propagandistas do ideário republicano. Refira-se que José R. Pablo herdou de sua tia, D. Emília José Guerreiro Barradas, a extensa e rendosa herdade de Água Derramada, o que contribuiu para o desafogo económico deste ramo da família. Tratava-se, naturalmente, de outra família da elite grandolense. A família Pablo é originária de Sines. Gente ilustrada, ligada ao comércio, destacou-se na sociedade grandolense da época quer no plano cultural, quer no plano político, visto que diversos dos seus membros ocuparam cargos nas instituições do poder local, defendendo com afinco os valores da causa republicana. O patriarca, João Rodrigues Pablo, casou em Grândola com uma senhora da nobreza local, D. Maria da Luz Guerreiro Barradas; ocupou durante longos anos o cargo de vereador e foi, sem dúvida, dos mais enérgicos e intervenientes em prol dos interesses e desenvolvimento locais.)
- Dr. António Silva – Médico em Grândola, casado e natural de Tavira. Iniciou aos 41 anos e adoptou o nome simbólico “Ferrer”. Poderá ter partido de Grândola para exercer a sua actividade noutro destino;
-Pedro Baptista Limpo – Proprietário/lavrador de profissão, era natural do Sobral da Adiça, concelho de Moura, e irmão de José Silvestre Baptista Limpo. Casou em Grândola com D. Lucília Matos Saraiva. Ocupou, por diversas vezes, o cargo de vereador. Pertencia, tal como o irmão, à elite local que gravitava em torno da figura central da sociedade local que era o Dr. José Jacinto Nunes (Pedrogão Grande-1839/Grândola-1931). Iniciou aos 31 anos e adoptou o nome simbólico “Domingos Afonso”;
- Jorge de Vasconcelos Nunes (1878 – 1936), filho do Dr. José Jacinto Nunes e de D. Maria da Natividade Paes e Vasconcelos, natural de Grândola, fez os primeiros estudos em Lisboa, ingressando em 1895 na Escola Central da Agricultura Morais Soares, em Coimbra, onde se manteve até 1900, ano em que se formou em Agronomia.
Enveredando pela carreira política, a exemplo de seu pai, tornou-se um acérrimo defensor dos ideais republicanos, ainda durante a Monarquia.
Jorge Nunes foi, provavelmente, o grandolense que mais destacadas funções governamentais desempenhou, ainda que por curtos períodos.
Foi deputado às Constituintes, tomou assento parlamentar por Setúbal (1911, 1919) e por Timor (1915). Regressou à Câmara dos Deputados, por Setúbal, em 1921,1922 e 1925, ascendeu a seu vice-presidente (1920) e a presidente (1921).
Integrou o governo nos anos de 1919-1920, exercendo as pastas da Agricultura, dos Abastecimentos, das Colónias, do Trabalho e, finalmente, do Comércio.
Foi procurador à Junta Geral do Distrito de Lisboa e vereador das Câmaras Municipais de Grândola e de Cascais.
Desempenhou, ainda, as funções de administrador de empresas, nomeadamente da Companhia de Caminhos-de-ferro Portugueses e contribuiu para que a linha de caminho-de-ferro do Vale do Sado passasse por Grândola.
Colaborou em vários jornais, designadamente em O País, A Lanterna, O Mundo, A Democracia do Sul e Pedro Nunes.
Iniciou aos 32 anos e adoptou o nome simbólico “Gomes Freire”;
- José Pedro dos Santos – Proprietário, natural de Azinheira dos Barros. Foi figura grada do seu tempo. Ilustrado e detentor de diversos bens, em que se salientava a herdade da Várzea Redonda, dedicou grande parte da sua vida à causa pública, tendo ocupado diversos cargos, nomeadamente: vereador, presidente da Câmara entre 1916 e 1919 e entre 1923 e 1924 e provedor da Santa Casa da Misericórdia. Iniciou aos 58 anos e adoptou o nome simbólico “Rodrigues de Freitas”;
- José Silvestre Baptista Limpo (1881 – 1966) – Natural de Safara (concelho de Moura), casou em 1911, em Grândola, com D. Mariana Gonçalves Champalimaud (filha do último Morgado dos Canais). Iniciou aos 29 anos e adoptou o nome simbólico “Espártaco”. Na Farmácia Baptista Limpo (actual Farmácia Costa), localizada em edifício construído em 1908, em espaço onde anteriormente existira a Farmácia Mota, trabalhou o eminente fotógrafo local Manuel Dominguez Martins que fundou, com José Máximo da Costa, a sociedade de fotografia Martins & Máximo. Foi no quintal do edifício da farmácia e da residência da família Baptista Limpo, que Manuel Martins realizou grande parte da sua obra fotográfica na área do retrato;
- Domingos Tavares de Almeida - Iniciou aos 38 anos e adoptou o nome simbólico “Marquês de Pombal”.
Sobre Francisco Nunes da Conceição não possuímos elementos e relativamente a Joaquim José Frota sabe-se que foi professor primário em Grândola, que aqui casou em 1902, e que era natural da freguesia de Santiago, Alcácer do Sal.
Nota: Fotografia publicada na revista Ilustração Portugueza, n.º 688, de 28 de Abril de 1919, p.334. Foi através desta publicação que se identificaram as personalidades retratadas e o acontecimento que as uniu no retrato em presença.